sexta-feira, 7 de agosto de 2009
O ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO
Escrito por um experiente especialista em desenvolvimento e acompanhamento de projetos de investimentos do Banco Mundial, O ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO (Ediouro, 2004) é uma leitura obrigatória para qualquer um que se interesse por economia. Apesar de bastante técnico, o livro pode ser lido e entendido por qualquer leitor mediano. A prosa de Willian Easterly é acessível. O estilo do autor chega mesmo a ser elegante, pois, através de pequenas e tocantes histórias dos amigos anônimos, ele dá voz a milhões de esquecidos ao redor do planeta.
O primeiro capítulo introduz o leitor num mundo bastante desagradável. Evidentemente o livro foi originalmente concebido para despertar o interesse de leitores do primeiro mundo. Afinal, como terceiro mundistas, estamos perfeitamente cientes e conformados com as estatísticas aterrorizantes que fazem parte do cotidiano dos países pobres. Vale a pena prestar bastante atenção na passagem em que é abordado um fenômeno bem conhecido do Brasil:- o crescimento econômico com aumento das desigualdades sociais. O que prova que a melhora da vida da população de baixa renda não é diretamente proporcional ao sucesso de uma economia.
No capítulo seguinte, o autor analisa todos os mecanismos utilizados até hoje para produzir o crescimento econômico no terceiro mundo. Suas conclusões são desanimadoras. Ao final de sua análise ele conclui que “Não deveríamos tentar estimar a quantidade de investimentos de que um país necessita para determinado índice de crescimento visado, pois entre investimento e crescimento não existe uma ligação estável”.
Ao contrário, o fracasso de todas as abordagens dadas pelos organismos mundiais de fomento econômico, provam que Solow estava certo, pois “no longo prazo a única fonte de crescimento possível é a mudança tecnológica.” A chave para entender o terceiro capítulo é a teoria dos rendimentos decrescentes, que pode ser enunciada da seguinte maneira “não é possível aumentar indefinidamente a produção aumentando indefinidamente um ingrediente da produção em face de outro. Quando você aumenta o número de máquinas em relação aos trabalhadores, o rendimento de cada máquina tornar-se-á cada vez mais baixo.”
A educação, que parece ser o fundamento do crescimento, também esbarra num problema. A falta de incentivo para a aquisição de capacitação. Sugerimos ao leitor uma atenção especial a este capítulo. Afinal, o drama brasileiro está diretamente relacionado a esta questão, pois nos últimos dez anos o país vivenciou uma verdadeira explosão do setor educacional. Contudo, nem por isto logramos crescer de maneira a absolver toda a mão de obra especializada que é despejada no mercado pelas escolas técnicas e universidades (públicas e, principalmente, privadas).
O problema educacional é formulado da seguinte maneira pelo autor “Se não se apresentam os incentivos para investir no futuro, de pouco vale a expansão da educação. Fazer o governo obrigar os indivíduos a freqüentar a escola não muda os incentivos deles para investir no futuro. Criar pessoas altamente capacitadas em paises cuja única atividade rentável é fazer lobby junto ao governo pela obtenção de favores não é a formula do sucesso. Criar capacidades onde não existe tecnologia para usá-las não promoverá o crescimento econômico.”
Para o autor a escolaridade “...só rende dividendos quando as ações governamentais criam incentivos ao crescimento e não à redistribuição.” Se Willian Easterly estiver certo, ninguém deve estranhar o fato da economia brasileira estar encolhendo. Afinal, em razão de sua proposta de redistribuir renda, o governo Lula afugentou os investimentos internacionais que poderiam empregar a mão de obra especializada formada e em formação. Em razão de suas preocupações sociais o PT não poderia mesmo fomentar o crescimento, mas apenas a paralisação ou a retração da economia nacional. O paradoxo é evidente:- quanto maior a preocupação social do governo mais desgraça social ele provoca ao desestimular o crescimento econômico.
A explosão demográfica seria o fator preponderante para o empobrecimento do terceiro mundo? A resposta tradicional é sim. O autor demonstra, entretanto, que o controle da natalidade não produz o crescimento econômico porque o desenvolvimento tecnológico é capaz perfeitamente capaz de superar a suposta carência produzida pela explosão demográfica. Nas palavras dele “...A população global praticamente dobrou entre 1960 e 1998, mas a produção de alimentos triplicou durante o mesmo período, tanto nos países ricos quanto nos pobres. Longo de vermos o aumento da escassez de alimentos, vimos os preços dos alimentos caírem praticamente à metade durante as últimas décadas.”
O argumento irrefutável que utiliza defender o aumento populacional é o seguinte “...A principal razão dos problemas financeiros do seguro social na maioria dos paises ricos é o crescimento populacional ter sido freado, o que baixou a proporção entre os trabalhadores que pagam impostos e os aposentados que recebem benefícios.” Não precisamos ser especialistas para concluir que esta conclusão se aplica perfeitamente ao Brasil, que vê seu sistema previdenciário se arruinar à medida que a população cresce mais lentamente.
O não pagamento da dívida externa foi uma das principais bandeiras de luta do PT. A “famigerada dívida inexistente” era considerada o fundamento da dependência e do atraso nacional, um verdadeiro instrumento de dominação do capitalismo imperialista americano.Agora que ocupam o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, os petistas se mostraram ferrenhos defensores de ajustes financeiros e do pagamento da dívida externa. Portanto, parece que as lideranças petistas trocaram O ESTADO E A REVOLUÇÃO de Lênin por O ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO de Willian Easterly. Não fosse o discurso de redistribuição de renda de Lula o projeto petista poderia não ter naufragado.
É preciso deixar bem claro, contudo, que o autor não credita à incompetência, desonestidade e má-vontade dos líderes terceiros mundistas toda a culpa pelo desenvolvimento não ter acompanhado o endividamento. Na verdade o FMI e o Banco Mundial não avaliavam a seriedade e a honestidade dos governos tomadores de empréstimos, premiando os administradores diligentes e competentes e limitando o crédito aos perdulários e corruptos. Assim, ao emprestar dinheiro para incompetentes e corruptos o FMI e o Banco Mundial incentivaram justamente a estagnação econômica, ou seja, o contrário do que pretendiam.
Além dos capítulos resenhados O ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO tem vários outros. Na verdade o livro é composto de 14 capítulos. Na segunda metade da obra são debatidas questões como:- o poder da tecnologia (a destruição criativa), corrupção e crescimento, governos que aniquilam o crescimento, etc. Como a tese principal de Easterly é que “as pessoas respondem a incentivos”, encerraremos nossa resenha neste ponto. Assim, os leitores se sentirão tentados a adquirir o livro para satisfazer sua curiosidade. E olhem que vale a pena.
Fábio de Oliveira Ribeiro
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