segunda-feira, 17 de março de 2008

Viver sem seguro saúde?

por Thomas Sowell em 19 de setembro de 2007

Resumo: Como se gasta mais de uma década para se criar uma droga nova, um político pode ser eleito presidente prometendo o controle de preços dos medicamentos, passar oito anos na Casa Branca e já estar vivendo a sua aposentadoria antes que as pessoas comecem a notar que não estamos mais tendo os mesmos tipos de medicamentos que, com sucesso, venceram as doenças mortais do passado.
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Durante os primeiros 30 anos de minha vida, eu não tinha seguro saúde. Tal era a situação de muitas pessoas, naquele tempo.

Naqueles 30 anos, eu quebrei um braço e minha mandíbula, machuquei seriamente meu ombro e tive uma série de outros problemas médicos. Dizer que meu salário estava abaixo da média seria eufemismo.

Como eu consegui? Como todo mundo: eu ia ao médico e o pagava diretamente, em vez de pagá-lo indiretamente por meio de impostos.

Isso foi muito antes de os políticos nos venderem a idéia de que as coisas que não podíamos ter individualmente poderíamos, de alguma forma, ter coletivamente, por meio da mágica do governo.

Quando quebrei minha mandíbula, fui tratado na sala emergência de um hospital e saí com uma conta de US$ 50,00 – que era para mim, em 1949, como o resgate de um rei. Mas eu paguei-a em prestações por um período de meses.

Como muitas pessoas, eu tive a sorte de não ter nenhuma despesa médica mais pesada, advinda de grandes intervenções cirúrgicas e longo período de internação.

Isso tudo é ainda verdadeiro para a maioria dos jovens de hoje, razão pela qual muitas pessoas de 20, 30 anos de idade decidem não pagar plano de saúde, mesmo quando podem arcar com as despesas.

Elas sabem que, numa situação inesperada, podem sempre ir para a emergência de algum hospital. E hoje, a idéia de que você deve pagar por isso, de seu próprio bolso, é considerado quase fora de moda em alguns ambientes.

Não é incomum – especialmente na Califórnia, com sua grande população de imigrantes – que hospitais tenham de fechar suas portas por causa do pequeno número de pessoas que pagam pelo serviço que recebem.

Há, claro, pessoas com despesas enormes, impossíveis de serem quitadas. Acredite ou não, isso também acontecia na época anterior ao welfare state, onde o estado é responsabilizado pelo bem-estar dos cidadãos.

Alguns hospitais – públicos ou privados – podiam absorver tais custos, com a ajuda de doadores. Havia pessoas com pólio vivendo dentro de iron lungs,[1] razão pela qual tanto os ricos quanto os pobres contribuíam com a March of Dimes.[2]

Mas aquilo era muito diferente da situação em que as salas de emergência dos hospitais ficam entupidas de usuários cujas únicas emergências são querer manter o dinheiro em seus bolsos e gastá-lo em divertimento, em vez de pagar suas despesas médicas.

A maior das grandes mentiras da propaganda do “sistema de saúde” é que a falta do seguro significa a falta do serviço médico. A segunda maior mentira é que o seguro saúde e o serviço médico são a mesma coisa.

Os médicos não podem evitar que você arruíne sua saúde de centenas de formas diferentes. Assim, as estatísticas generalizadas, da mortalidade infantil até a AIDS, não são provas da necessidade de o governo assumir o tratamento médico.

Poucas pessoas demonstram o mais modesto interesse no que tem acontecido realmente em países com o sistema de saúde controlado pelo governo.

Supostamente, deveríamos seguir o exemplo desses países sem perguntar sobre os meses que, neles, as pessoas esperam para ter os tratamentos médicos que os americanos conseguem apenas pegando o telefone e marcando uma consulta.

É surpreendente como muitas pessoas parecem desinteressadas de tais coisas, como a razão de tantos médicos na Inglaterra serem de países do Terceiro Mundo com baixos padrões de saúde – ou a razão de as pessoas residentes no Canadá virem aos EUA se tratar quando elas poderiam se tratar, a um custo mais baixo, no próprio país.

O controle governamental dos preços dos medicamentos é mais uma das muitas ilusões de se conseguir algo a partir do nada.

As pessoas que estão pressionando para que sigamos outros países que controlam o preço dos medicamentos parecem desinteressadas no fato de que aqueles países dependem dos EUA para criarem novas drogas, depois de destruírem os incentivos para que isso ocorresse em seus próprios territórios.

Como se gasta mais de uma década para se criar uma droga nova, um político pode ser eleito presidente prometendo o controle de preços dos medicamentos, passar oito anos na Casa Branca e já estar vivendo a sua aposentadoria antes que as pessoas comecem a notar que não estamos mais tendo os mesmos tipos de medicamentos que, com sucesso, venceram as doenças mortais do passado.

[1] Câmara asséptica dentro da qual o paciente vivia permanentemente. (N. do T.)
[1] Algo como a Marcha dos Centavos, que começou como uma campanha de arrecadação de fundos para combate à pólio (que foi vencida em 1955, nos EUA) e hoje ampliou suas preocupações para todo tipo de doença grave do recém-nascido. (N. do T.)
Thomas Sowell é doutor em Economia pela Universidade de Chicago e autor de mais de uma dezena de livros e inúmeros artigos, abordando tópicos como teoria econômica clássica e ativismo judicial. Atualmente é colaborador do Hoover Institute.


Publicado por Townhall.com
Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo

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